Esta foi a primeira vez que experimentámos fazer campismo selvagem, isto é, acampar sem ser num parque de campismo. Decidimos trocar o conforto de uma cama de hotel pela experiência única de dormir sob as estrelas, num dos locais naturais mais belos de Portugal.

Regoufe
Quando partimos de Regoufe, com destino à aldeia mágica de Drave, já era tarde para quem ainda lá queria chegar de dia. Pelo caminho encontrámos habitantes simpáticos e acolhedores com as suas cabrinhas.
Em breve, o sol começar-nos-ia a dizer adeus. Felizmente, começámos a avistar Drave ao longe e encontrámos o local perfeito para acampar, com uma vista incrível para as “Montanhas Mágicas“.
Depois da montagem da tenda e de um jantar sob as estrelas, decidimos seguir o som da água e caminhar. Caminhámos durante algum tempo, era uma descida bem acentuada. Meia hora depois começámos a aperceber-nos que ainda teríamos de percorrer um longo e íngreme percurso para chegar à água. Decidimos voltar para trás e retornar à nossa tenda. De repente, caminhar até à água, à noite, começou a parecer-nos uma ideia pouco esperta.
Seguimos caminhando para chegar à nossa tenda. Um ruído não identificado veio de um dos arbustos. Parámos e apontámos a lanterna na direcção do ruído. Não foi também a nossa melhor ideia, a suspeita de ruído não identificado foi agora tomada por uma clara certeza de que não estávamos sozinhos. O som que ouvimos parecia ser um claro grunhido de javali. É fácil identificar, agora, o ruído que ouvimos, mas no meio de uma noite cerrada e com a adrenalina à flor da pele, não foi assim tão claro. Ficámos, apenas, muito assustados e começámos a andar o mais rápido que as nossas curtas pernas permitiam. Agora, apercebemo-nos que estávamos a ser um pouco totós e medricas, o pobre animal terá ficado tão assustado como nós. Afinal de contas esta serra é a casa dele, nós fomos meros convidados que apareceram sem lhe pedir autorização.
Quando, por fim, chegámos à nossa tenda, não ouvimos ruídos, a noite estava calma.
Ainda assim, naquela noite nenhum de nós conseguiu dormir um segundo que fosse em resultado da prévia libertação de adrenalina e das nossas mentes férteis e assustadas.
Bom, talvez o Valter não tenha conseguido dormir porque sempre que ele se mexia ou respirava de forma diferente eu abanava-o e perguntava-lhe se aquele barulho tinha sido ele a fazê-lo. Engraçado como a ausência de luz e a nossa própria cabeça nos podem afectar tanto o sistema nervoso e as emoções.
Quando voltei a olhar para o relógio e me apercebi que já eram 5h30 decidimos levantar-nos, desmontar a tenda e fazer o caminho de volta a Regoufe.
É o campismo selvagem ilegal em Portugal?
Ao fazer este texto fizemos alguma pesquisa sobre a legislação do campismo selvagem em Portugal e encontrámos alguns sites e fóruns onde se discutia a possibilidade deste tipo de campismo ser ilegal no nosso país. Ficámos surpreendidos, mas segundo o site da Quechua (a nossa tenda é desta marca) : é importante diferenciar entre campismo selvagem e bivaque. “Se o campismo selvagem é proibido em todos estes locais, o bivaque é muitas vezes tolerado (este é o caso de alguns parques nacionais e em montanha).
O bivaque consiste em instalar-se para passar a noite e partir na manhã seguinte. No entanto, é necessário informar-se antecipadamente junto dos eventuais guardas do parque, abrigos ou da câmara municipal! É claro que a principal condição consiste em respeitar a natureza e deixar os locais tão limpos conforme se encontravam à sua chegada.”
Encontrámos também uma notícia do Correio da Manhã, de 2007, referente à autuação de 71 campistas selvagens e caravanistas, no Algarve, por estarem a acampar em zonas protegidas e susceptíveis à erosão, mas suponho que esse seja um tipo de campismo mais prolongado.
Caso tenham interesse, o Decreto de Lei que parece legislar este tipo de campismo é o DL n.º 310/2002, Capítulo V : “Licenciamento do exercício da actividade de acampamentos ocasionais”.
Não gostamos de ser infractores da lei e julgamos não ter incorrido em nenhuma ilegalidade, dado que apenas pernoitámos e partimos de manhã, o que parece mais uma situação de bivaque do que de campismo selvagem.
Achamos que o mais importante, numa experiência deste género é agradecer e honrar o privilégio que a natureza nos dá ao poder passar uma noite junto dela. Portanto, nada de deixar lixo, levem sacos para guardar todo o lixo que façam.
Já experimentaram campismo selvagem? Como foi a vossa experiência ? Ficaram com medo? Enfrentaram algum perigo real ou apenas imaginário? Ou apenas têm experiências incríveis a relatar?
Partilhem connosco, gostaríamos muito de ouvir as vossas aventuras. Estamos a precisar de alguma inspiração para voltar a tentar.
Pirata838
Eu já passei pela mesma experiência na serra de aire,pois ouvia perto de mim os javalis a lutarem entre si , e alguns a roncar mesmo ao lado do abrigo onde eu pernoitava sozinho(não ganhei para o susto).
Não fui atacado!
Deixei tudo limpo como sempre.
Já tenho feito campismo selvagem ,e os insecos são o bicho mais selvagem que tenho encontrado quando acampo em liberdade,tirando essa noite.
Estou a pensar agora em bikepacking na rota vicentina,com campismo selvagem,acreditando que o javali não será um perigo se não irritado ou ferido.
Lara Oliveira
Muito obrigada por partilhar a sua experiência de campismo connosco “Pirata838”. Gostamos sempre de ouvir as experiências de outras pessoas. Realmente, não deve ter ganho para o susto. Nós também acreditamos que os javalis não sejam um perigo se não forem provocados mas ainda assim, ouvir sons destes animais numa noite cerrada, no meio do mato, já dá direito a umas valentes palpitações no coração.
Também gostávamos muito de fazer um dos troços da Rota Vicentina a pé. Não sabemos é se temos resistência para tal, mas vamos tentar 😉
João Filipe
Olá Lara.
Acampei muito em Drave, com os escuteiros, quando era mais puto. Adorava lá voltar!
Vocês chegaram mesmo a Drave (aldeia, lagoa, etc.) ou ficaram pelo alto da montanha?
Conheces mais sítios bonitos para caminhar?
Bjinhos, João
Lara Oliveira
Olá, João.
Tenho de confessar que acabámos por ficar pelo alto da montanha. Planeávamos caminhar até Drave na manhã seguinte, mas com o susto da noite anterior e com o cansaço de não termos dormido nada, assim que amanheceu decidimos voltar para trás. Ficámos com pena de não ter chegado mesmo a Drave. Queremos muito lá voltar um dia e fazer o percurso completo!
Olha, quanto a sítios bonitos para caminhar, um dos percursos que mais quero fazer agora é a Rota Vicentina. Talvez não consiga fazer a rota toda, mas já ficava feliz se fizesse, pelo menos, um ou outro trilho deste percurso. Gostava mesmo de fazer o trilho que liga São Luís a Odemira. Podes encontrar mais informação sobre a rota, aqui: http://pt.rotavicentina.com/ir.html
Outro percurso que também queria muito realizar é o da Frecha da Mizarela. http://www.cm-arouca.pt/portal/index.php?Itemid=275&id=256&option=com_content&task=view
O último sítio que vou sugerir também já está na nossa lista de trilhos a percorrer há algum tempo, mas ainda não surgiu a oportunidade. Este é um trilho que pode ser feito tanto de bicicleta como a pé. É a Ecopista do Dão. Mais informação aqui http://www.ecopista-portugal.com/
Depois diz-nos se gostaste das nossas sugestões. Se quiseres mais sugestões em relação a caminhadas ou de locais para descobrir, sente-te à vontade para nos mandar um mail que tentamos responder de forma mais pormenorizada.
Beijinhos
Diogo
Gostei do relato da experiência, sinto essas serras como parte de mim pois vivo a poucos kms da Serra da Freita e seja a caminhar ou BTT conheço diversas rotas e secret spots.
De facto os javalis não fazem mal algum se não provocados, eles assustam-se muito facilmente e desaparecem…escreve alguém que já teve diversos “encontros imediatos” com o espécime…assim como os lobos ou raposas (apesar de que não convém deixar recipientes de comida abertos).
Fiquei curioso com uma coisa que faço sempre à noite por essas serras e é uma experiência única: deitaram-se no chão a olhar para o céu estrelado? Se sim não existem palavras para descrever, não é verdade?
Lara Oliveira
Uau, Diogo, que inveja! Adorávamos viver assim tão perto deste paraíso! Nós estamos cheios de vontade de retornar a esta região tão encantadora e poder explorá-la em maior profundidade.
Adoraríamos responder positivamente à sua pergunta. De facto, tínhamos planeado passar a noite a tirar fotos às estrelas e a contemplar o céu dentro dos nossos sacos-cama, mas a verdade, é que depois do susto com o javali fomos uns medricas. Tirámos 1 ou 2 fotos às estrelas e fechamo-nos na nossa tenda até amanhecer. Temos mesmo de dar uma segunda oportunidade ao campismo selvagem para poder ter uma experiência mais completa.
Diogo, desde já, gostaríamos de agradecer o seu comentário e a partilha da sua experiência connosco! Desejamos-lhe um excelente fim-de-semana! 😉
Bernardo Daun
Parabéns por estas experiências, um bom grupo este, eu vou aqui relatar a minha modesta experiência.
Sempre gostei de estar comigo mesmo, sozinho, durante uns anos largos, 2004 a 2015, acampei muito entre Tróia e a Comporta. A mãe tem casa em Soltróia, e eu aproveitava 1 a 4 dias, várias vezes na Primavera, Verão e Outono, para acampar. Geralmente ia a pé ou de moto, levava uma mochila com um saco-cama, polo, calções, meias, comida (bolachas, amendoins, maças, lata de atum e salsichas, pão), água (o mais volumoso), outra mochila pequena, toalha, lanterna, telemóvel, livro e poucos produtos de higiene – destaco o repelente de mosquitos frequentes nessa zona. De dia ficava pela praia, tentava escolher o sitio para dormir, e usufruía da praia que, aliás, adoro. Ao anoitecer, sem ninguém perto, recolhia-me. Por norma eu escolhia sempre um local perto da praia, com vegetação rasteira, areia e longe de arvores. Nunca fui incomodado, senti sempre segurança e comunhão com a natureza. Adormecia pelas 00h00, por vezes acordava durante a noite e sentia naturalmente humidade. Acordava invariavelmente pelas 06/07 horas, fazia barba, lavava o rosto com um lenço de papel, arrumava tudo e enterrava a mochila maior, colocando por cima vegetação com picos para ninguém descobrir, nem pisar. Nunca houve quaisquer problemas.
De dia ficava pela praia, embora de manhã houve-se humidade e, por vezes, o sol demorava a chegar. Dias bons, longos e sossegados esses. Era um mero turista, sem grande bagagem. Geralmente as mochilas grandes na praia atraem a curiosidade, bem como a barba por fazer, o cabelo crescido, a roupa algo suja. De noite o barulho e as fogueiras são outro erro.
Senti naturalmente a presença de grupos, mas raramente, a centenas ou quilómetros de distância. Este ano vou repetir a experiência, menos vezes, mas a vida mudou.
Lara Oliveira
Bernardo, ficamos muito gratos por ter partilhado a sua experiência connosco! Acampar em Tróia deve ser uma experiência memorável.
Tiago Pereira
Ola Lara, gosto muito de fazer campismo e em especial campismo selvagem pela proximidade com a natureza. Ja fiz campismo selvagem algumas vezes e de uma forma geral so boas experiencias para contar! Acampei uma vez em Tróia ainda era mais novo, e lembro me da noite ter sido bastante tranquila, sem barulhos ou algo que pudesse perturbar, apenas o som do mar ao fundo de uma forma relaxante e harmoniosa. Sem falta, levar replente porque aquela zona no verão esta repleta de melgas. Da segunda vez, uns anos mais tarde, fui acampar para a praia dos Coelhos na Arrabida. Sitio lindo, sossegado mas com o inconveniente de a noite e possivel ouvir javalis a circular nas areas adjacentes a praia. Tirando algumas palpitações no coração e pondo a preocupação de lado, foi uma noite bastante agradável, com um ceu estrelado incrivel e que so terminou com o nascer do sol ja de manha e uma paisagem deslumbrante como fundo. Voltei a acampar tambem em Ferreira do Zezere junto a margem e tambem em montargil junto a margem num sitio impecavel que parece que foi feito para o efeito. Fica do lado esquerdo da entrada do parque de campismo, e a par com a noite em Ferreira do Zezere foram as noites mais tranquilas de sempre. Talvez pela experincia que adquiri em campismos anteriores e ja estar mais familiarizado com o conceito, mas foi chegar ao local preparar a tenda, tratar de fazer qualquer coisa para o jantar, abrir uma garrafa de vinho e desfrutar do ceu estrelado em comunhao com os barulhos da natureza.
Sem duvida, experiencias a repetir, e continuar a descobrir Portugal desta forma. Penso que tudo seja uma questão de hábito e uma vez que se consiga ultrapassar a barreira do medo/psicologico so temos tendencia a aproveitar cada vez mais cada experiencia e procurar sempre sitios novos para desfrutar! Não desistam, da próxima certamente que correra melhor e a vontade de repetir será uma certeza. Boa sorte!
Lara Oliveira
Tiago, obrigada por partilhar as suas experiências tão positivas. Depois de lermos as suas vivências, ficámos com vontade de dar uma segunda hipótese ao campismo selvagem, assim que possível. Obrigada por nos motivar!
Miguel
Olá!
gostei muito do local!
por curiosidade, a tenda é de 2 ou 3 pessoas?
cumprimentos!
Lara Oliveira
Olá Miguel.
A tenda é de 2 pessoas. 3 pessoas nesta tenda já ficariam muito apertadas;)
Beijinho
Bruno Simões
Encontrei a vossa página pois estou á procura de sítios novos para bivacar.`
Obrigado por partilharem a vossa experiência, pois sempre mostra uma evolução, antigamente campismo selvagem era só para os ciganos e sem abrigos…
os meus pais nunca tiveram paciência para fazer esse tipo de actividades comigo, mas assim que ganhei idade arranjei coragem e fui acampar sozinho. desde aí nunca acampei em parques de campismo, só em pinhais e serras, a melhor aventura que fiz foi 3 dias de mochila ás costas pela Serra da Estrela com as dormidas em hammock, a dita cama de rede para bivacar, já passei várias noites na serra de Montejunto, Arrábida, algumas na Barragem de Magos e nem sempre sozinho, tanto que agora os meus filhos acompanham-me nestas aventuras e adoram acampar.
Tanto que dei com a vossa página porque estou á procura de um sitio novo para ir acampar com eles…
Cumprimentos e vivam a vida